sábado, 6 de junho de 2009

Prosperidade cristã: Experiência de poder pelos caminhos do não-poder!


Nos últimos anos surgiu no campo religioso evangélico, o que se optou chamar de ‘evangelho da prosperidade’ ou ‘teologia da prosperidade’. Estar atento ao conteúdo do discurso desta teologia é de fundamental importância, enquanto quisermos pensar a nossa fé e o evangelho de Jesus Cristo com a seriedade que lhe é necessária.
Afirmaríamos que a pregação da prosperidade gerou uma espécie de crente consumista de Deus, um caçador de bençãos e nômade da fé, que transita por todas as igrejas, mas não pára em nenhuma, e que, equivocado em suas aspirações espirituais, ao final de sua peregrinação, percebe-se cansado e frustrado.
Esse modelo um tanto comercial da fé, é descrito por Ricardo Gondim, como uma “atitude de rendição ou adaptação total [que] vende a fé por um valor muito reduzido e que no balcão das liquidações da fé, oferecem-se produtos divinos a um custo cada vez mais baixo, pois o importante é manter a casa cheia” (Fim de milênio: os perigos e desafios da pós-modernidade na igreja. São Paulo, Abba Press, 1996).
Quero evidenciar rapidamente algumas implicações teológicas diante da pregação da prosperidade. Primeiro, o Deus da teologia da prosperidade deixa de ser o Deus que se solidariza com os pobres, maltratados e marginalizados da sociedade para ser o Deus dos ricos, dos poderosos, dos que enriquecem e, com suas riquezas, dominam sobre os demais. No dizer de Roldán, ao Deus que se preocupa, na tradição bíblica, em garantir a vida dos pobres, hoje sucede um Deus, que diz satisfazer os mais supérfluos caprichos humanos (Para que serve a teologia? 2000, p. 163).
Em segundo lugar, a imagem de Cristo na pregação da prosperidade sofre uma alteração absurda a partir do mau uso do texto de 2Co. 8.9: “Vocês já conhecem o grande amor de nosso Jesus Cristo: ele era rico, mas se tornou pobre por causa de vocês a fim de que vocês se tornassem ricos por meio da pobreza dele”. Para fundamentar a ideia de riqueza para os fiéis, como evidência de êxito cristão, Cristo aparece absolutamente rico, e sob a ótica interpretativa do evangelho da prosperidade, predomina um caráter puramente materialista para o texto, o que se constitui uma incongruência e pelo menos, por duas razões: Uma, Paulo não foi um exemplo de prosperidade econômica, ele mesmo, o apóstolo, faz questão de enfatizar situações-limite de pobreza, escassez e até fome (2Co. 11.25-27), ou seja, Paulo não poderia estar postulando uma fé cristã de sucessos a partir de 2Co.8.9 sob a ótica puramente de resultados materialistas.
Em seguida, sob o pano de fundo maior dos evangelhos, a verdade é que, Jesus Cristo nasceu pobre, viveu pobre e morreu pobre (Lc. 2.24; 9.57,58; 23.50-53). O texto acima também nos mostra que mesmo que ele tenha sido rico, fez-se pobre por amor, o que implica um modelo de desprendimento em favor dos outros, e não de acúmulo desmedido de riquezas. Muito bem sintetiza esse pensamento Roldán ao esclarecer que, “O Jesus pobre do evangelho, que se posiciona contra ricos e opressores, foi transmudado no Cristo ‘tecnocrata’, que nos convida a participar de seu ‘negócio’ que, como tal, só mede estatísticas e resultados, sem avaliar os custos para a vida dos fiéis”.
Confesso que não gostaria que, após você ter lido até aqui, me fizesse perguntas do tipo: Mas pastor então você é contra a riqueza e os ricos? Os crentes não podem ser ricos e os ricos não podem herdar o reino de Deus? Deus não pode tornar nenhum crente rico? A igreja é espaço somente para pobres? Como sei que não estou imune a estas perguntas e não tenho nenhum problema que me façam, fiquem à vontade, é que quis apenas sugerir que você entendeu bem o que venho me propondo a discutir sobre o tema em foco.
Ou seja, quero dizer que, a questão não é que o evangélico não deva ser rico, ele pode ser rico e da mesma forma que o não evangélico, o é, também preciso dizer que não tenho problema nem com a riqueza nem com os ricos, assim como também, não penso que o evangelho pertença somente aos pobres, não é essa a questão aqui, mas o que quero ressaltar é que riqueza, bem material, saúde, condições sempre favoráveis, ausência de problemas (se é que isso exista), não são critérios absolutos para avaliar uma grande fé, uma vida cristã de sucesso à luz do evangelho e de toda a tradição bíblica, não é medida pela posse de riquezas ou bens favoráveis de qualquer natureza, mas ela é sempre medida pela fé corajosa, capaz de contemplar a Deus mesmo quando ‘ele desaparece’ perante os pavores repentinos. É como diz Paul Tillich, teológo luterano do seculo XX, esta é a coragem de ser do crente, a fé adulta, ele diz: “A coragem de ser está enraizada no Deus que aparece quando Deus desaparece na angústia da dúvida”. Tillich está afirmando que a fé em Deus independe definitivamente das circunstâncias, Deus sempre aparece, não importa, mesmo que duvidemos, Ele sempre aparece.
O evangelho da prosperidade é resultado de um contexto de mercado capitalista, afeiçoado a rotina social do imediatismo das coisas, em que a capacidade de consumir determina, avalia as pessoas de sucesso daquelas que não são, dentro de uma ótica puramente baseada no ter e não no ser.
A maioria das igrejas evangélicas brasileiras, apresentam-se sucumbidas sob a ótica capitalista, os pregadores reféns desse sistema comercial, produzem crentes fracos espiritualmente, que não possuem fome e sede justiça, mas fome e sede de bens e poder deste mundo, condicionados, incapazes de exercer a liberdade do pensamento e da crítica, são presas fáceis de falsos pregadores sensacionalistas, muito mais interessados em bolsos, do que em cumprir uma missão mais verdadeira e mais parecida com a ‘cara’ e com o rosto de Jesus Cristo.
Encerro afirmando que, fazer a oração de Jesus Cristo é um dos grandes desafios para o crente atual, ‘não seja feito o que EU QUERO, mas o que TU QUERES SENHOR’. conforme andamos falando esses dias na comunidade, uma fé cristã sadia, só é possivel pelo poder de Deus e o poder de Deus, só é experiência de poder pelos caminhos do não-poder.

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